março 29, 2011

Bem de perto

Sabe, eu nunca vivenciei a morte. Pelo menos não a morte dos outros. Eu nunca perdi ninguém, a não ser minha cachorrinha, que não doeu tanto em mim porque já doía mais em outro alguém. Mas a cada dia eu me aproximo mais desse conceito, e isso está tirando o meu sono.
Eu, racionalmente, consigo entender a morte. Consigo entender e acreditar que certas pessoas cumprem suas funções na terra e por isso merecem paz, salvação, vida eterna, ou até mesmo uma vida nova por meio da reencarnação - o que quer que eu acredite no momento, porque até nisso as minhas certezas vacilam. Mas a incerteza da morte não é o que me atormenta; aliás, pouco me importa o que vai me acontecer depois que esse meu corpo padecer.
O que me importa de verdade é o que continua acontecendo aqui, nesse mundo, enquanto eu assisto as pessoas que eu amo serem levadas cada dia mais para longe de mim.
Meus avós estão doentes. Três, dos cinco que eu tenho a graça de ter. E aconteceu tudo de uma vez. E por enquanto o que mais me dói não é lidar com o fato de que eles podem morrer. É ver a pessoa que eu mais amo nesse mundo sofrendo e tendo que lidar com isso. Não que eu não me importe, ou que eu não ame os meus avós postiços, mas eu consigo chorar, sofrer e ver as coisas passarem. Até porque eu nunca convivi com eles o suficiente para essa dor ser insuportável. Mas é para ele. E por isso é para mim.
Com a minha vó materna é diferente. Bem diferente. Ela me criou, ela me deu banho, ela me pôs na cama e me levou para a escola todos os dias. Ela me ensinou a amar natação, e bolo X-tudo. A falta que ela eventualmente vai fazer na minha vida vai ser imensa.. indescritível. Mas, de novo, não é o que mais me dói. É sentir também que a minha mãe sofre e se sente incapaz de agir diante de uma situação que ela, infelizmente, não tem controle.
Se eu pudesse, eu sofreria tudo pelos dois. Choraria cada lágrima, sentiria todo o aperto no peito, cada espaço preenchido pela saudade. Eu aguentaria tudo isso.. Mas é insuportável, inviável para mim ver cada um deles murchar mais um pouco, a cada dia que passa...

0 comentários:

Postar um comentário